Agrotóxicos, pesticidas, herbicidas, fertilizantes, praguicidas, o nome não importa, o que se discute é o risco que a exposição a esses produtos químico pode trazer para nossa saúde e para o meio ambiente. Segundo a organização Mundial da Saúde (OMS), existem mais de mil tipos de agrotóxicos usados nas atividades agrícolas em todo o mundo e o Brasil é citado como um dos que mais consomem esse produto.
O que são agrotóxicos
Os agrotóxicos são quaisquer produtos de natureza biológica, física ou química usados na agricultura para controlar e combater a ação ou insetos, fungos, roedores, bactérias, moluscos, ácaros, ervas daninhas e outras formas de vida animal ou vegetal prejudiciais à saúde pública e as culturas agrícolas. Os agrotóxicos surgiram na Primeira Guerra Mundial e foram amplamente usados na Segunda Guerra como armas químicas. Após a guerra, passou a ser utilizado no controle de pragas como defensivo agrícola.
A fome na Europa naquele período impulsionou a chamada “Revolução Verde”, que tinha como objetivo fomentar a agricultura, resultando na produção de alimentos. Desde então, o setor agrícola vem passando por muitas mudanças, destacando a pesquisa sobre sementes e o uso de máquinas ultra-tecnológicas no campo, com o intuito de potencializar a produtividade dos cultivos.
Como os agrotóxicos podem afetar os seres vivos
Na atualidade, o uso de agrotóxicos vem sendo amplamente discutido pelo simples fato de que eles também são prejudiciais a outros seres vivos e não somente às espécies nocivas à plantação. Um exemplo disso são as abelhas, seres que polinizam mais da metade dos nossos alimentos e que são cruciais para a manutenção da vida humana. Essa espécie corre um sério risco de desaparecer do planeta, pois são muito prejudicadas pelo uso dos pesticidas. O que ocorre é que, quando entram em contato com esses produtos, acabam perdendo o senso de direção e não conseguem voltar às suas colmeias.
Estima-se que cerca de 70% das culturas de alimentos dependa das abelhas, ou seja, seu desaparecimento pode causar um enorme déficit na produção alimentícia mundial e ocasionar o fim da espécie humana.
Perigos dos agrotóxicos à saúde humana
A maioria dos casos de intoxicação por agrotóxicos são causados, principalmente, pelo uso negligente dessas substâncias. A ação desses produtos na saúde humana, em alguns casos, pode ser fatal, além causar problemas como abortos, fetos com má formação, câncer, dermatoses, entre outras doenças. Estima-se que 15% de todas as doenças profissionais notificadas são causadas por envenenamento por produtos químicos, especialmente o chumbo e os pesticidas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica os agrotóxicos em classe I (extremamente perigosos) até classe IV (muito pouco perigosos), sendo que a maioria das substâncias consideradas extremamente perigosas tem sua comercialização proibida ou estritamente controlada.
Existem três tipos de intoxicação por agrotóxicos:
- Aguda: os efeitos são sentidos em questão de minutos ou horas. Dependendo da quantidade de veneno absorvido, a intoxicação pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave. Os sintomas mais frequentes são dores de cabeça, náusea, vômitos, diarreia, irritação dos olhos e pele, dificuldade respiratória, visão turva, convulsões e até mesmo a morte.
- Subaguda: os efeitos aparecem aos poucos e ocorrem por exposição moderada ou pequena ao veneno, acarretando sintomas como: dores de cabeça, dores de estômago e sonolência.
- Crônica: os sintomaspodem surgir meses ou até anos após a exposição. Normalmente são decorrentes do contato, ingestão ou inalação de pequenas doses da substância por um longo período de tempo. Muitas vezes o quadro clínico da vítima é irreversível e pode ter consequências graves, como: paralisia, esterilidade, abortos, câncer, danos ao desenvolvimento de fetos, entre outros.
Vantagens e desvantagens do uso de agrotóxicos
O controle de pragas e doenças na lavoura é uma das principais vantagens do uso de agrotóxicos, pois o resultado de uma plantação saudável garante a produtividade dos produtos cultivados. Além disso, o preço dos alimentos cultivados com agrotóxicos costuma ser menor quando comparados aos produtos orgânicos.
Por outro lado, o uso dessas substâncias em excesso pode trazer risco à saúde e acarretar diversos problemas ao meio ambiente e ao ecossistema, como contaminação do solo, dos recursos hídricos e também da fauna e da flora.
Tipos de agrotóxicos
Existem diversas formas de classificar os agrotóxicos. A mais popular é a classificação segundo a natureza da praga a ser combatida, que são:
- Inseticidas: usados para controlar insetos e pragas indesejadas.
- Herbicidas: usados para matar ervas daninhas e plantas que são consideradas prejudiciais para as plantações.
- Bactericidas: usadas para controlar as bactérias que podem afetar as plantações.
- Fungicidas: usados para controlar os fungos que crescem em locais de plantio.
- Desfoliantes: usados para eliminar folhas indesejadas.
- Raticidas: usados para controlar os roedores que podem infestar as lavouras.
Agrotóxicos no Brasil
O Brasil é um país de vasto potencial agrícola e pecuário e, portanto, é considerado o maior consumidor de agrotóxicos no mundo. A questão levanta algumas polêmicas, como o fato de que ainda usamos agrotóxicos que foram proibidos desde 1985 na Europa, Estados Unidos e Canadá. Segundo a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), cerca de 2/3 dos alimentos in natura consumidos no território nacional estão ‘contaminados’ por essas substâncias. Além disso, por ser um país tropical, o índice de pragas e doenças é maior e isso estimula ainda mais o consumo desses venenos nas plantações.
A legislação regulamenta a utilização desse tipo de agroquímicos com a Lei Federal n° 7.802, mais conhecida como lei dos agrotóxicos, sancionada em 1989.
No início de 2019, foi aprovado na Câmara um projeto que prevê a liberação de agrotóxicos pelo Ministério da Agricultura, impedindo que órgãos como Ibama e Anvisa interfiram. Essa flexibilização na lei, no entanto, tem sido bastante discutida e criticada por ambientalistas e órgãos da saúde e do meio ambiente.
Agrotóxicos nos alimentos
Dos alimentos cultivados, os que mais apresentam concentração de agrotóxicos são: legumes, verduras e frutas como: alface, pimentão, cenoura, pepino, morango, uva, etc. Segundo uma pesquisa da Anvisa, realizada entre 2013 e 2015 com cerca de 12 mil amostras de alimentos, mesmo depois de lavados os resíduos de agrotóxicos ainda permanecem e, consequentemente, acabam são ingeridos pela população, podendo ocasionar riscos à saúde.
O Brasil ainda dispõe de um enorme problema com a ausência de fiscalização, seja pela fração permitida ou, ainda, pela venda ilícita desses elementos. A Anvisa, portanto, criou o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que tem como objetivo garantir que a quantidade de agrotóxicos aplicada nos alimentos esteja dentro dos conformes permitidos pelo Limite Máximo de Resíduo (LMR).
É por essa e outras razões que o consumo de alimentos livres de agrotóxicos vem crescendo e se tornando um requisito obrigatório para algumas pessoas. A procura por produtos orgânicos estimula o setor a crescer, em média, 20% ao ano, favorecendo e incentivando o uso eficiente dos recursos naturais e da biodiversidade, alinhado ao desenvolvimento econômico sustentável, à qualidade de vida humana e à preservação do meio ambiente.
Agrotóxicos na agricultura
Com a modernização dos sistemas de produção agrícola incentivando a expansão do agronegócio, os agrotóxicos tomaram um papel fundamental para se garantir a oferta de alimentos em escala mundial. A prática de monocultura (plantio de uma única espécie de planta/alimento) favorece o ciclo de pragas e doenças e faz com que haja necessidade de se utilizar agroquímicos para preservar a lavoura e garantir a máxima produtividade. Em 2017, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), das principais produções agrícolas, as campeãs no uso de defensivos agrícolas foram a soja, a cana-de-açúcar, o milho e o algodão.
No entanto, o uso inadequado e excessivo desses produtos químicos pode trazer danos irreversíveis à saúde e acarretar doenças como arritmias cardíacas e alergias respiratórias. Já existem pesquisas que relacionam, direta ou indiretamente, o uso de agrotóxicos como uma das causas para o absurdo aumento de casos de alguns tipos de Câncer nas últimas décadas. Além disso, também existem os prejuízos ao meio ambiente, como a contaminação do solo e de recursos hídricos.
Agrotóxicos e meio ambiente
Apesar das vantagens para o agronegócio, os defensivos agrícolas são extremamente nocivos ao meio ambiente. Os rios e mares são frequentemente contaminados por agrotóxicos e, nos casos mais graves, essas substâncias pode ocasionar a mortandade de peixes e espécies marinhas, afetando, assim, toda a comunidade aquática. O homem, por exemplo, além da presença de agrotóxicos nos alimentos, também pode sofrer com a contaminação das águas ao consumir um peixe que vive em uma área atingida por esse tipo de produto.
Como vimos, o uso intenso de agrotóxicos leva à degradação dos recursos naturais, à degradação do solo, à contaminação de lençóis freáticos e à intoxicação da fauna e da flora, podendo acarretar o desequilíbrio biológico e ecológico do ecossistema.